terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Artigo do Grupo em 2008

Olá gente...

Segue o resultado dos nossos encontros de 2008. Este ano a colega Cinara Zanoni saiu do grupo e tivemos a companhia da colega Andréa Audi.

Leiam!



Algumas imagens de nossos encontros ao longo do ano de 2008. E uma homenagem aos nossos filhotes que acompanhavam as mamães e o pai até os locais dos encontros. Duda, Isa, Iuri e Elisa. Amamos vocês!!!

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A Formação de Professores – O Diálogo e o Autoritarismo na
Relação Professor Aluno.


Andréa Audi
Carlos Jaime Dalpaz
Claijiam Dalpaz
Inajara Meregalli
Suzana de Paula

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Resumo

Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa qualitativa realizada com alunos e também com pais e professores sobre o conceito de diálogo e autoritarismo. A pesquisa realizada em escolas do município de Osório/RS, teve a finalidade de ampliar o conhecimento a cerca de fatores que facilitam e dificultam a relação professor aluno. Muitos dos depoimentos abordaram o autoritarismo como forma de poder dos professores em relação aos alunos. Ao mesmo tempo, o diálogo foi definido como forma de resolver situações conflituosas entre professores e alunos.

Palavras-chave:

Diálogo – Autoritarismo – Pais – Alunos – Professores – Relação Professor Aluno.

Resumen

Este artículo el resultado de una pesquisa cualitativa realizada com alumnos e também com pais e maestros sobre el concepto de diálogo e autoritarismo. A pesquisa realizada em escuelas do município de Osório/RS, teve a finalidade de ampliar el conocimiento a cerca de factores que facilitam e dificultam a relación maestros alumnos. Muchos del depoimentos abordaram o autoritarismo como forma de poder del maestros em relación al alumnos. Al mismo tiempo, el diálogo fue definido como forma de resolver situaciónes conflictosas entre maestros e alumnos.

Palabras-llave:

Diálogo – Autoritarismo – Padres – Alumnos – Maestros – Relación Maestros Alumnos.
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1 - Introdução

No final de 2007, publicamos um artigo, onde apresentávamos o resultado de uma pesquisa quantitativa que havíamos realizado ao longo daquele ano com pais, professores e alunos de quatro escolas de Osório sobre a Relação Professor Aluno. A pesquisa, realizada a partir de um questionário, apresentava aos entrevistados oito itens que poderiam prejudicar a relação professor aluno: autoritarismo, falta de respeito mútuo, falta de estima, relação familiar, falta de motivação, instabilidade emocional, recursos físicos escolares inadequados e visão fragmentada do ser humano. Estes deveriam ser enumerados pelo grau de importância que o entrevistado desse a cada item.

Da mesma forma, oito itens que facilitariam a relação professor aluno também foram apresentados aos entrevistados: diálogo, parceria, bom humor, entusiasmo, afetividade, conhecimento, flexibilidade e motivação.

Após a tabulação dos dados verificou-se que dos oito itens apresentados para serem enumerados conforme grau de importância, com relação aos fatores que dificultam o relacionamento professor aluno, educandos do Ensino Fundamental, professores e familiares apontaram em primeiro lugar a falta de respeito mútuo seguido do autoritarismo em segundo lugar. Vimos também, que na opinião dos alunos do Ensino Médio a ordem foi inversa. Ou seja, em primeiro lugar, aqueles alunos apontaram o autoritarismo e logo após a falta de respeito mútuo. Na terceira colocação os alunos elegeram a falta de estima, enquanto familiares e professores optaram pela falta de motivação.

Ao mesmo tempo, verificou-se que para familiares e alunos do Ensino Fundamental, a relação professor aluno pode ser facilitada em primeiro lugar pelo diálogo, enquanto que professores e alunos do Ensino Médio apontaram o bom humor em primeiro lugar. Na segunda posição concordaram professores e alunos do Ensino Médio que é o diálogo é um elemento facilitador. Já para alunos do Ensino Fundamental foi o bom humor e para seus familiares, o conhecimento do professor. Este aspecto também foi colocado em terceiro lugar na opinião dos professores pesquisados. Ao mesmo tempo, a relação professor aluno ainda pode, em terceiro lugar, para os familiares ocorrer através da motivação, que na opinião dos alunos, na mesma posição indicaram a parceria do professor.

E foi a partir dos dados colhidos pela pesquisa, que o grupo entendeu que este estudo poderia continuar dando ênfase a dois aspectos importantes apontados pelo levantamento: o Diálogo como fator facilitador na relação professor aluno, apontado por boa parte dos entrevistados. E o Autoritarismo como fator que dificulta a relação professor aluno.

A partir disso o grupo iniciou, já em 2008 a segunda etapa do projeto do grupo de estudos fazendo uma pesquisa, desta vez qualitativa, com a intenção de buscar juntos aos pais, professores e alunos o que é Diálogo, e o que é Autoritarismo. Segue, o resultado deste levantamento que foi realizado durante o primeiro semestre de 2008 com alunos, pais e professores de quatro escolas de Osório: Escola Rural, Escola Polivalente, Escola General Osório, Instituto de Educação Cenecista Marquês de Herval.

Vamos iniciar nosso relato neste artigo, definindo Diálogo e intercalando com as considerações vindas dos pais, professores e alunos. Depois, da mesma maneira, faremos nosso relato sobre o Autoritarismo.

2 - Definindo Diálogo

Segundo, o professor Dr. José Francisco de Melo Neto da UFPB, em seu artigo “Diálogo em Educação”, Diálogo, historicamente é apresentado com Sócrates ao introduzi-lo como técnica de perguntar e responder, à procura da verdade. Trata-se da “arte de dialogar, também, adquire a metodologia do confronto de perspectivas entre aqueles que dialogam, definida a partir de critérios de coerência lógica”.

Para Houaiss, diálogo é “(s.m.)1.fala em que há a interação entre dois ou mais indivíduos; colóquio, conversa. 2.contato e discussão entre duas partes em busca de um acordo. Etimologicamente do latim (dialogus) – adaptação do grego ou ‘conversação, diálogo’ ligado ao grego logos ‘palavra”. (pág.1031).

Com estas duas definições iniciamos nossas considerações sobre o diálogo que foi apontado por pais, professores e alunos como um dos facilitadores na relação professor aluno.

Cabe colocar neste início, que acreditamos que para termos uma educação mais humanizadora, o diálogo é fundamental. Em nossa prática como professores de diversos componentes curriculares, sabemos que “o dialogar” é condição primeira para que tenhamos trocas mais efetivas no processo de ensino aprendizagem. As considerações que os colegas professores apontaram sobre o diálogo também vão nessa direção. Os alunos apontaram questões muito interessantes sobre o diálogo. Seus pais, também definiram o diálogo como o contato entre duas pessoas e discussão entre elas.

O que mais nos chamou atenção foram as formas simples que todos utilizaram para exemplificar diálogo.

3 - O Diálogo para Alunos, Pais e Professores

Buscando conhecer a opinião dos alunos, pais e professores sobre o Diálogo, colocamos a seguinte questão: Conceitue diálogo. Cite uma situação em que o diálogo foi vivenciado por você e um professor em sala de aula.

Lançada a questão, começamos a registrar as opiniões dos alunos. Ficou claro desde o primeiro momento, que o conceito de diálogo vai em direção a uma conversa entre aluno e professor. Esta conversa pode ser no sentido de resolver uma ida ao banheiro, uma conversa “desnecessária” dos alunos, o entendimento de um conteúdo novo, e outros .

Iniciando pelos alunos do Ensino Fundamental, eis alguns depoimentos:

“diálogo é a forma de aproximar aluno e professor. O diálogo pode resolver questões chatas do dia-a-dia como apelidos”.

Para outro aluno do Ensino Fundamental

“Diálogo é quando conseguimos conversar, debater, questionar e apoiar. Com certeza, o diálogo só dá bons frutos quando há respeito, harmonia entre ambos. Um bom diálogo é quando, por exemplo, o aluno não entende ou não concorda com a explicação do professor. Tem que haver harmonia e bom senso para a questão ser resolvida, com limites”.

Percebe-se que o depoimento do aluno anterior deposita no diálogo muita confiança no sentido de que a relação professor aluno é balizada pelo as boas interações e que estas podem ter no diálogo um forte aliado no processo ensino-aprendizagem.

Para Hernández, “o diálogo implica a honestidade e a possibilidade de intervir em um clima de confiança”(apud –Revista Pátio,2002 pág.15) Este clima de confiança foi apontado por muitos alunos, pais e professores como veremos mais adiante.

Para finalizar os exemplos que os alunos trouxeram, vamos ver este outro depoimento sobre diálogo.

“Para mim diálogo é uma conversa, um debate, uma troca de idéias. Uma das situações de diálogo que já vivenciei foi quando ocorreu um debate na sala de aula, cada um defendendo suas idéias criticando a dos outros e aprimorando a sua opinião com a dos outros”.

Mais uma vez, fica aqui evidenciado que os alunos vêem no diálogo a possibilidade de contornar situações que prejudicam a relação na sala de aula.

Também colhemos as opiniões de professores. Para estes o diálogo foi apontado também como forma de resolver conflitos e melhorar a relação professor aluno.

Segue o primeiro depoimento:

“Troca de idéias e informações de forma a melhor situações e resolução de problemas”.

Outro colega professor também afirma:

“É uma reflexão conjunta. Conversação que visa comunicação entre pessoas. Produção de idéias. Metodologia que permite as pessoas pensarem juntos e compartilhar situações, dados para observação, análise e julgamento. A situação foi quanto aos problemas ambientais que ameaçam a vida na terra, dialogamos quanto a força da cidadania por um mundo melhor”.

Encerramos com o depoimento de uma colega que diz:

“Diálogo é diferente de conversa, bate-papo. Implica em saber, ouvir e ter profundo respeito pelo outro. È um ouvir – refletir - falar, e, talvez mudar de opinião, ambos – aluno / professor – constroem um conceito ou a predisposição à busca. O diálogo preconiza a qualidade, o crescimento. Situação – revisão de classes gramaticais na 8ª série. Informei que platéia era concreta. Um aluno discordou. Pedi que argumentasse. Admiti para a turma minha dúvida. Convidei-os à pesquisa. Entre os professores não havia consenso. Não localizamos em gramáticas. Consultei a Academia Brasileira de Letras. Dias depois, veio o retorno: platéia é um substantivo concreto. Expus aos alunos a caminhada de pesquisa, o debate entre os professores, e, o resultado. Eles adoraram e concluíram “ que legal que aconteceu tudo isso a partir de uma dúvida.”

Reparem, que neste último exemplo, o diálogo vem acompanhado do respeito. A colega trás a idéia do respeito um pelo outro. Ora, uma das queixas mais batidas pelos professores nos últimos tempos, é justamente a falta de respeito de seus alunos para consigo. É bem verdade também, que o contrários muitas vezes também ocorre.

Mas, fica a lembrança do diálogo como fator que pode contribuir sim, para que as relações entre alunos e professores possam ser melhores através do respeito e do diálogo.

Como já dissemos, também colhemos opiniões dos pais quanto ao que seria diálogo. Os depoimentos que nos chegaram vieram repletos de situações não muito diferentes das anteriores com relação aos alunos e professores.

Nosso primeiro depoimento tem direcionamento de que:

“Diálogo na família como forma de conversar com os filhos para pré-estabelecer limites. Isso num acordo em que ambas as partes aceitam (pais e filhos)”.

Outro pai diz que:

“Penso que diálogo é uma conversa, troca de palavras que temos o tempo todo e com várias pessoas. O diálogo é sempre importante entre pais e filhos, uma conversa no dia-a-dia em ajuda nas tarefas de casa, em um puxão de orelhas”.

Este entendimento de diálogo trazido acima, foi ratificado por outros pais que também participaram da pesquisa. Ou seja, os pais e responsáveis valorizam o diálogo e atribuem ao mesmo, muita importância. Acreditam que a conversa com seus filhos possa contribuir para as boas relações na família e também na escola.


“Conversa consensual, decisão habitual. De maneira geral a minha relação com meus filhos se baseiam em diálogos. Sendo ele importante para manter a unidade familiar”.

Este outro depoimento, também dá importância ao diálogo, relacionando-o à unidade familiar. Então a importância da família como elo no processo de ensino aprendizagem. No entanto, sabemos que muitas vezes pais e alunos reclamam da ausência do diálogo entre ambos.

O mundo moderno, e todas as implicações que o mesmo apresenta, é o grande vilão desta situação. TIBA (1996, pág. 149/150), nos diz que “é dentro de casa, na socialização familiar, que um filho é treinado e adquire, aprende e absorve a disciplina para, num futuro próximo, tornar-se uma pessoa disciplinada”.





4 - Definindo Autoritarismo


“Qualquer que seja a qualidade da prática educativa, autoritária ou democrática, ela é sempre diretiva. No momento, porém, em que a diretividade do educador ou da educadora interfere na capacidade criadora, formuladora, indagadora do educando, de forma restritiva, então a diretividade necessária se converte em manipulação, em autoritarismo”. (FREIRE, 1998, pág. 79).

Geralmente no campo da educação, o autoritarismo é relacionado ao fato de que o professor, adquire o poder de determinar as ações dos alunos, que legitimam esse poder, pois é passado de geração a geração, ou adquirem rapidamente na própria escola, a imagem do professor como uma figura que tem o direito de exercer a autoridade.

Se formos verificar no dicionário, autoritarismo é a “qualidade do que ou de quem é autoritário. Trata-se de um sistema político que concentra o poder nas mãos de uma autoridade ou pequena elite autocrática” (HOUAISS, 2001). O mesmo Houaiss, etimologicamente autoritário+ismo - arbitrariedade, autocracia, cesarisno, despotismo, ditadura , opressão, tirania. Etimologia latina – auctoritas, atis, cumprimento, execução. ( HOUAISS,pág. 352,2001)


5 - O Autoritarismo Para Alunos, Pais e Professores

Da mesma maneira que buscamos conhecer a opinião dos alunos, pais e professores sobre o Diálogo, procuramos também conhecer suas opiniões sobre o Autoritarismo. Foi colocada a seguinte questão: Conceitue Autoritarismo. Cite uma situação em que o autoritarismo foi vivenciado por você e um professor em sala de aula.

Lançada a questão, começamos a registrar as opiniões dos alunos. Ficou evidente desde o primeiro registro, que pais, alunos e professores, também têm opiniões semelhantes quanto ao conceito de autoritarismo.

Vejamos alguns exemplos:

“Autoritarismo como forma do professor se achar superior”.

Este primeiro registro mostra o que foi quase uma unanimidade entre os alunos. Ou seja, a grande maioria dos alunos associam os professores ao autoritarismo.

Um outro aluno diz que o autoritarismo é:

“Quando professores não atendem solicitações dos alunos no sentido de mudarem seus métodos de aulas”.

Reparem que aqui um aluno trouxe o autoritarismo demonstrado através da prática de um professor que, a princípio não teria aceitado sugestões para mudar sua prática. Perrenoud (2000, pág. 28), diz que a escola não constrói a partir do zero, nem o aprendiz não é uma tabula rasa, uma mente vazia; ele sabe, ao contrário, “muitas coisas”, questionou-se e assimilou ou elaborou respostas que o satisfazem provisoriamente. Por causa disso, muitas vezes, o ensino choca-se de frente com as concepções dos aprendizes.

O último exemplo que trazemos produzido pelos alunos, entre tantos sobre o autoritarismo, é o que segue:

“Autoritarismo é ter autoridade, mandar, ter poder em mãos e fazer mau uso dele. Não havia feito nada e me colocaram com uma dupla no conselho de classe, que eu não queria, não estava habituado, isolado dos meus amigos, sozinho no fundo da sala; isso sinceramente não me agradou, pedi para me mudar e “só de ódio” me colocaram com uma dupla pior”.

Dos diversos questionários encaminhados aos pais, poucos retornaram. Algumas causas foram apontadas pelo grupo: possibilidade dos alunos não entregarem em casa, os mesmos. Isso é bem possível ter ocorrido. Também foi apontado o possível descaso dos próprios pais que não desejaram discutir o tema em casa com seus filhos, ou mesmo com o grupo de professores.

Segue o primeiro depoimento de um pai:

“Imposição de suas opiniões. Não deixar escolha ao outro. Quando necessário, deve ser utilizado para o filho ser responsável nas tarefas”

Muitos pais, que participaram da pesquisa, abordaram o autoritarismo não muito diferente do depoimento anterior. Ou seja, vêem no autoritarismo uma maneira de impor responsabilidade aos seus filhos.

FERREIRA (2001, pág. 3), nos diz que a “autoridade é tudo que faz com que as pessoas obedeçam, seja na escola, universidade, na sua residência, por fim onde estiver uma relação humana”.

Freire, deixou-nos uma definição bem contundente do que seria o papel de nossos pais ou responsáveis com relação aos seus filhos:

“A posição da mãe ou do pai é a de quem, sem nenhum prejuízo ou rebaixamento de sua autoridade, humildemente, aceita o papel de enorme importância de assessor ou assessora do filho ou da filha. Assessor que, embora batendo-se pelo acerto de sua visão das coisas, Jamais tenta impor sua vontade ou se abespinha porque seu ponto de vista não foi aceito.” (FREIRE, 1999, p. 120)

Outro depoimento de um pai diz o seguinte:


“Poder de mando, imposição da vontade do autor. Nem sempre uma discussão familiar se resolve no ato do diálogo, por exemplo, pedido da minha filha para participar de determinada festa. Argumentar, “meus amigos vão, vai ser legal”. Os pais continuam inseguros e entendem que o ambiente não é adequado. O filho é proibido de ir, mesmo não aceitando a negativa, obedece”.

Percebe-se a mesma temática anterior na definição do autoritarismo. Pais não vendo no diálogo a possibilidade de convencimento de seus filhos sobre aquilo que eles querem, apelariam para o autoritarismo.


“Autoritarismo é não saber que o outro possa pensar diferente de mim, acho que na relação entre pais e filhos temos que tomar cuidado entre não ser autoritário mas saber definir os limites. Um filho que não conhece limites será um cidadão sem limites. Uma situação: desligar a televisão quando já é madrugada e pela terceira vez pedir para ela dormir”.


Como vemos, alguns pais sabem diferenciar autoridade e autoritarismo. Conforme nos diz FERREIRA (2001, pág. 3),

“a autoridade não pode ser vista como um bloqueio da liberdade discente, nem tão pouco pelo cessar de uma autonomia discente. Não se deve confundi-la com autoritarismo, ou seja, uma autoridade sem limite, com exagero, tornando uma “máquina”, que não possa expressar a sua individualidade e nem externa a sua insatisfação ou angústia de um determinado assunto ou regra estabelecida”.

Quanto aos professores, os seguintes depoimentos, entre tantos, nos serviram como exemplo para a redação deste artigo.

“Opinião imposta. Decisão unilateral. Visão única: a do professor. Em determinadas situações quando o diálogo não funcionar para se chegar a uma solução, eu como professora, imponho a autoridade que me cabe. Mas geralmente a situação é retomada com o diálogo”

Ao registrarmos as opiniões dos colegas professores, percebemos justamente, em muitos casos, o exemplo acima. Ou seja, muitos colegas procuram usar o diálogo, mas quando o mesmo não funciona, apelam para o que chamam de “usar sua autoridade”.


“O autoritarismo se caracteriza com atitudes que impõem o desejo de uma única pessoa ou grupo sobre o restante da população. Nem sempre todos os professores negociam ou combinam com seus alunos, às vezes exigem que façam o que estão mandando sem que ao menos escutem o que seus alunos tenham a dizer. São situações desse tipo que já presenciei em sala de aula, já que meus alunos têm abertura para expressarem o que sentem em minha aula”.

O que o colega diz acima é oportuno. Trata-se de uma realidade presente em muitas escolas em nosso país. Nem sempre a relação professor aluno é marcada pela democracia. A maioria das regras e acontecimentos do processo ensino-aprendizagem vem de cima para baixo.

O depoimento abaixo também vai nessa direção. De uma maneira bem pontual, o próximo colega lembra algo importante quando tratamos de diálogo e autoritarismo: a avaliação. Esta, foi apontada por alunos e professores como fator de autoritarismo por parte do professor. É quando a avaliação é utilizada como instrumento de poder pelo professor em relação ao aluno.


“É usar do direito ou poder de cobrar dos outros, dar ordens ou tomar decisões sem consultar as opiniões da maioria. É não fazer uso da democracia. A situação de autoritarismo que vivencio em sala de aula é através de avaliações e datas cobradas para entrega de trabalhos. O fato de ter avaliações, valor ou nota, isto já é um ato de poder que detenho sobre meus alunos”.

Muito tem se discutido sobre a avaliação nos últimos anos. No entanto, é visível sua utilização como forma de poder por parte de professores no processo avaliativo. Hoffmann (1998, pág. 19), diz que:

“o autoritarismo e a arbitrariedade do processo avaliativo originam-se muitas vezes de uma incansável busca de um padrão uniforme, através da definição de critérios comparativos”.

6 – Considerações Finais

Como já havíamos dito em nosso artigo anterior, o estudo da relação professor aluno oportuniza reflexões múltiplas sobre diversos temas. Ao encerrarmos esta reflexão sobre o diálogo e o autoritarismo, fica claro que a caminhada na direção de uma relação professor aluno mais aberta, franca e democrática, passa por estes dois fatores. Fácil? Sabemos que não. HENGEMÜHLE (2007, pág. 44), nos diz que “Como pessoas, trazemos em nosso mundo subjetivo a nossa história cultural, pessoal, social e transcendental, a partir da qual constituímos nossa individualidade. Para a educação, atender o desenvolvimento dessas potencialidades e dimensões humanas é grande desafio”.

Nesse sentido, entendemos que a nossa formação continuada é fundamental. O momento é de desafios, como diz HENGEMÜHLE (2007, pág. 84), “a Pós-modernidade certamente trouxe aos professores desafios nunca vistos e enfrentados nos momentos históricos anteriores”. Acreditamos que cabe a nós, professores, buscar caminhos e enfrentar estes novos desafios.

As reflexões trazidas por alunos, pais e colegas professores foram oportunas para que pudéssemos ampliar nosso conhecimento sobre a relação professor aluno. As contribuições trazidas pelos alunos, ao todo 78 questionários respondidos, foram as mais significativas não só pela quantidade, mas também pelo conteúdo que expressaram.

As contribuições de pais e professores, embora significativas, deixaram a desejar com relação ao número. Foram quinze questionários que retornaram de pais ou responsáveis e somente seis colegas professores nos enviaram o questionário nas escolas.

Quanto aos pais, como já comentamos anteriormente, é possível que os questionários não tenham chegado até eles. Também pode ter ocorrido o desinteresse dos mesmos quanto ao trabalho proposto.

Com relação aos professores, ficamos surpresos com a pouca receptividade dos colegas sobre dois temas pontuais em educação hoje em dia: Diálogo e Autoritarismo. No entanto, os questionários que retornaram, foram bem aproveitados e contribuíram muito com nosso trabalho de buscar compreender um pouco melhor a relação professor aluno.

A discussão sobre a relação professor aluno é pontual. É comum em nossas escolas assistirmos momentos muito bacanas onde professores e alunos, e também pais, em alguns momentos, compartilham sucessos de projetos bem sucedidos e relações harmoniosas. No entanto, o contrário também existe e é mais visível. Não são raros os momentos de conflitos onde professores acusam alunos e familiares, e estes acusam os professores e a escola.

Cabe portanto, a busca de uma relação mais próxima entre pais e filhos e a escola. O diálogo e o autoritarismo devem ser mais discutidos. Não podemos confundir Autoritarismo com Autoridade. Para Tiba “autoridade é algo natural que deve existir sem descargas de adrenalina, seja para se impor ou se submeter, pois é reconhecida espontaneamente por ambas as partes. Assim, o relacionamento se desenvolve sem atropelos. O autoritarismo, ao contrário, é uma imposição que não respeita as características alheias, provocando submissão e mal-estar, tanto na adrenalina do que impõe, quanto na depressão do que se submete” (TIBA, 1996, pág. 13).

O diálogo deve ser a base das relações familiares e também da escola. Pais, professores, e principalmente alunos, com seus depoimentos deixaram claro que apostam no diálogo como fator responsável por relações mais amistosas, não só em casa, mas principalmente na escola com seus colegas e professores.

Ao encerrarmos lembramos mais uma vez Freire. Talvez, hoje mais do que nunca, necessitemos de diálogos. Diálogos como ele nos ensinou:

“Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise de falar a ele” (FREIRE, 1996, pág. 127/128).



7 - Bibliografia


FERREIRA JR, Acácio de Assunção. Autoridade ou Autoritarismo? A “Didática do Comportamento. In: http://artigocientifico.uol.com.br/artigos/. Acessado em: 12/Junho/2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998

HERNÁNDEZ, Fernando. O Diálogo como mediador da aprendizagem e da construção do sujeito na sala de aula, Revista Pátio, Ano VI nº 22 Julho/Agosto, 2002.

HENGEMÜHLE, Adelar. Formação de Professores: Da função de ensinar ao resgate da educação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2007.

HOFFMANN, Jussara. Contos e contrapontos: do pensar ao agir em avaliação. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.

Houaiss, Antônio. Houaiss Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.

NETO, José Francisco de Melo. Diálogo em Educação. In: http://fuleiragem.typepad.com/ecognitiva/teses/. Acessado em 23/Maio/2008.

PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências Para Ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

TIBA, Içami. Disciplina – Limite na Medida Certa. São Paulo: Editora Gente, 1996.