Instituto de Educação Cenecista Marquês de Herval
A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO
Carlos Jaime Dalpaz
Cinara Zanoni
Claijiam Dalpaz
Inajara Meregalli
Suzana de Paula
A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO
Carlos Jaime Dalpaz
Cinara Zanoni
Claijiam Dalpaz
Inajara Meregalli
Suzana de Paula
Resumo
No início de 2007, durante a Jornada Pedagógica do Instituto de Educação Cenecista Marquês de Herval, foi lançado o Projeto Grupo de Estudos com Professores em Serviço, que objetiva a qualificação continuada dos educadores. Os professores da Instituição foram convidados a formarem grupos por área de interesse e se comprometeram a realizarem encontros com regularidade mensal para estudo do tema escolhido, sendo que a proposta culminaria com a redação de um artigo-síntese sobre o tema que integrará os anais do projeto. Neste sentido, após os primeiros encontros, o grupo definiu que o o objeto de estudo seria a relação Professor Aluno.
Assim, este artigo apresenta os resultados obtidos através de uma pesquisa realizada no ano de 2007 sobre fatores que facilitam e dificultam a relação professor-aluno. A pesquisa foi desenvolvida em quatro escolas do município de Osório/RS, sendo o público-alvo constituído de alunos (nível fundamental e médio), professores e pais.
O objetivo deste trabalho foi verificar a percepção do corpo docente, discente e familiar sobre fatores que interferem no relacionamento professor aluno. A metodologia utilizada foi quantitativa e as respostas evidenciaram que professores pais e alunos possuem opiniões similares sobre fatores que dificultam ou facilitam a relação professor aluno.
Introdução
Nos últimos anos, têm-se percebido cada vez mais, um considerável número de professores angustiados com as relações existentes principalmente dentro das salas de aula. Desinteresse, falta de motivação, apatia e muitas vezes agressividade são queixas constantes de colegas educadores. Ao mesmo tempo, alunos queixam-se de seus professores pelo autoritarismo, desinteresse e também pela falta de motivação.
Entre estes dois grupos, a família quando cobrada, muitas vezes deposita na escola a responsabilidade por possíveis desvios de conduta de seus filhos e raramente apóia a escola.
Quais seriam os motivos pelos quais a relação professor aluno apresenta-se nos últimos anos tão fragilizada? Buscando encontrar algumas respostas para esta questão, nos dispomos a realizar um levantamento de dados em quatro escolas do Município de Osório, questionando professores, alunos e familiares sobre o que facilita e o que dificulta a relação professor x aluno.
Os Dados da Pesquisa
Entre tantas situações que predispõem a qualidade da relação professor x aluno no que diz respeito as dificuldades impostas no dia-a-dia da sala de aula, oito itens foram apresentados aos entrevistados: autoritarismo; falta de respeito mútuo, falta de estima, relação familiar, falta de motivação, instabilidade emocional, recursos físicos escolares inadequados e visão fragmentada do ser humano.
Estes aspectos foram escolhidos a partir das colocações dos membros do grupo de estudo que através de suas experiências do fazer pedagógico, optaram por estes elementos que julgam relevantes. Da mesma forma, oito itens que facilitariam a relação professor aluno também foram apresentados aos entrevistados: diálogo, parceria, bom humor, entusiasmo, afetividade, conhecimento, flexibilidade e motivação.
Tabulação dos Dados
A tabulação dos dados da pesquisa realizada com os alunos do Ensino Médio apontou os seguintes resultados no que diz respeito aos fatores que dificultam a relação professor aluno: 45% apontaram o autoritarismo, 41% a falta de respeito mútuo e 8% a falta de estima. Já com relação aos fatores que facilitam a relação professor aluno os mesmos educandos apontaram os seguintes resultados: 46% escolheram o bom humor, 30% o diálogo e 15% a parceria.
A mesma pesquisa foi realizada com alunos do Curso Fundamental e os resultados apontados foram os seguintes no que diz respeito aos fatores que dificultam a relação professor aluno: 33% a falta de respeito, 26% autoritarismo e 19% falta de estima. Para estes alunos o que facilita a relação professor aluno com 55% está o diálogo, 22% o bom humor e 19% a parceria.
A pesquisa também foi realizada com professores do Ensino Médio e Ensino Fundamental de quatro escolas diferentes e os resultados apontados foram os seguintes: como facilitadores da relação professor aluno estão o bom humor com 30%, o diálogo com 27% e o conhecimento com 17%. Já em relação aos fatores que dificultam essa relação está a falta de respeito mútuo com 45%, o autoritarismo com 31% e falta de motivação com 14% dos votos.
A mesma pesquisa realizada com pais das quatro escolas pesquisadas em relação aos fatores que facilitam a relação professor aluno apontou diálogo com 64%, conhecimento com 14% e motivação e bom humor com 8% dos votos. Já os fatores que dificultam a relação professor aluno para os pais são a falta de respeito mútuo 61%, autoritarismo 22% e falta de motivação 8% dos votos.
Análise dos Dados
Percebe-se que dos oito itens apresentados para serem enumerados conforme grau de importância, com relação aos fatores que dificultam o relacionamento professor aluno, educandos do fundamental, professores e familiares apontaram em primeiro lugar a falta de respeito mútuo seguido do autoritarismo em segundo lugar. Vimos também, que na opinião dos alunos do Ensino Médio a ordem foi inversa. Ou seja, em primeiro lugar, aqueles alunos apontaram o autoritarismo e logo após a falta de respeito mútuo. Na terceira colocação os alunos elegeram a falta de estima, enquanto familiares e professores optaram pela falta de motivação.
Para familiares e alunos do fundamental, a relação professor aluno pode ser facilitada em primeiro lugar pelo diálogo, enquanto que professores e alunos do Ensino Médio apontaram o bom humor em primeiro lugar. Na segunda posição concordaram professores e alunos do Ensino Médio que é o diálogo um elemento facilitador. Já para alunos do Fundamental foi o bom humor e para seus familiares, o conhecimento do professor. Este aspecto também foi colocado em terceiro lugar na opinião dos professores pesquisados. Ao mesmo tempo, a relação professor aluno ainda pode, em terceiro lugar, para os familiares ocorrer através da motivação, que na opinião dos alunos, na mesma posição indicaram a parceria do professor.
A Falta de Respeito e o Autoritarismo
Com relação aos fatores que dificultam a relação professor aluno, ficou evidenciado algo que o grupo já conhecia. Como sabemos a falta de respeito mútuo e o autoritarismo tem sim, dificultado muito a relação professor aluno em nossas escolas. Pais, professores e alunos sabem e revelaram isso no levantamento realizado.
O velho modelo, “professor ensina, aluno aprende”, ainda existe. E isto ficou evidenciado com os dados levantados junto aos pais, alunos e colegas educadores. Nesse modelo, é quase impossível ocorrer trocas, enfim, uma relação harmoniosa. Temos o autoritarismo.
Freire (1996), já nos dizia que “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. Por isso, o estudo aponta um fator importante que tem prejudicado bastante a relação professor aluno.
O professor autoritário não contribui para uma educação mais humanizadora. Na verdade, entendemos que conforme Fleuri (1997), a prática pedagógica autoritária acaba gerando situações de conflitos. Assim, sem um bom relacionamento entre alunos e professores, a própria prática pedagógica e o processo ensino-aprendizagem ficam prejudicados.
Com relação á falta de respeito mútuo, outro fator destacado no levantamento, fica claro que este também é um elemento que tem prejudicado a relação professor aluno. É cada vez mais constante nas salas dos professores e também nas salas do SOE, queixas de alunos e professores que no dia-a-dia de nossas escolas enfrentam situações onde a falta de respeito impera.
Nos últimos anos a relação professor aluno tem sido muito estudada. Grande parte dos estudos sobre tema apontam a falta de respeito mútuo como um fator que realmente contribui para uma relação conflituosa em nossas escolas.
Como sabemos, no ambiente escolar é fundamental o respeito entre professores e alunos. De acordo com o dicionário Aurélio, respeitar é "a lei de agir de modo que não fira, não ofenda e não prejudique".
Porém, o que temos hoje em nossas escolas é o desrespeito mútuo que vai da violência verbal, psicológica, e muitas vezes, à violência física como muito tem-se noticiado. Resultando na falta de diálogo que vamos analisar mais tarde, entre alunos e professores o que prejudica o aprendizado dos educandos. Por outro lado, pela falta de respeito dos alunos, o professor não se sente motivado a explicar o conteúdo, o que prejudica ambos.
A Falta de Estima e Motivação
Sem sombra de dúvidas ser professor hoje em nosso país não é algo fácil. Ainda que sejamos reconhecidos como profissionais necessários para a transformação da sociedade, ainda que sejamos aplaudidos em algumas ocasiões durante o ano, cada vez mais ser professor torna-se tarefa árdua.
E no momento em que analisamos a relação professor aluno, a nossa motivação e nossa estima também devem ser analisadas. Basta ver os dados apontados na pesquisa, onde alunos e pais, além de nós mesmos, apontam a falta de estima e também a falta de motivação como fatores que também prejudicariam a relação professor aluno.
É verdade, que ambos elementos valem tanto para os educadores, como para os educandos. Professor não motivado, com sua estima baixa, acaba por influenciar seus alunos. Conforme Morales (1998) “não basta o que professor faz; é necessário que o aluno perceba o interesse do professor”.
O mesmo autor ainda nos diz que “as condutas do professor influem sobre a percepção que os alunos têm de sua própria relação com os professores. Continuando sua análise sobre esta relação, Morales aponta que “ a conduta do professor influi sobre a motivação e a dedicação do aluno ao aprendizado”.
Por isso, entendemos que o papel do professor é fundamental nesta relação. A construção de uma relação menos conflituosa passa pelo entendimento do professor como agente de transformação das relações com seus alunos.
Como dissemos anteriormente, ser professor não é tarefa fácil. Na verdade, segundo Hengemühle (2007), “a pós modernidade certamente trouxe aos professores desafios nunca vistos e enfrentados nos momentos históricos anteriores”.
Assim, sabemos que muito do que acontece na escola é fruto do trabalho e da ação dos professores. Por isso a relação professor aluno, necessita de motivação e estima de todos os sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Concluímos essa análise dos elementos que dificultam a relação professor aluno dizendo que os educadores são sim, responsáveis pela transformação das pessoas, que por sua vez transformam a sociedade. Segundo Gadotti (2003), “ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade ser educadores”.
O Bom-Humor e o Diálogo
Geralmente quando somos cobrados a indicarmos elementos que podem contribuir com uma relação mais harmoniosa entre alunos e professores, muitas coisas são colocadas. Entre os itens que foram colocados a disposição dos entrevistados: Bom Humor e Diálogo foram os mais evidenciados.
O resultado é, interessante, porque fatores como conhecimento e motivação não mereceram tanto destaque. Ou seja, tanto para alunos, quanto para pais e professores, diálogo e bom humor são elementos que facilitam a relação professor aluno.
Isso nos fez pensar sobre o que seja um bom professor ou o que seja um bom aluno. Quem não presenciou a cena onde um aluno ou uma turma inteira declara “amor eterno” ao professor tal, por ele ser parceiro, legal, bem humorado, brincalhão. Todos o adoram.
Geralmente com o aluno é diferente. Aluno legal, parceiro seria aquele que coopera, faz os trabalhos, tira boa nota, etc. No entanto, verificar que o bom humor e o diálogo são fatores que facilitam a relação professor aluno é muito bom. Na verdade, se tivermos um olhar mais sensível em relação aos nossos alunos, vamos perceber que eles, e nós mesmos, adoramos uma aula alegre, divertida.
Mas também é verdade que a interação aluno professor não é só de alegria e diversão. No dia-a-dia da escola nem sempre é fácil equilibrar as relações com motivação. Nesse sentido Tapia e Fita (1999), nos dizem que “a motivação dos alunos se vê notavelmente influenciada pelo clima que se vive e pelo ambiente que se respira na escola, pelas normas de funcionamento, pelos valores que se depreendem da atuação dos professores individualmente e em equipe”.
Percebe-se que um clima favorável ao diálogo e ao bom humor não obra de um único sujeito. Os mesmo autores ainda afirmam que “é importante, muito importante que as equipes de professores sejam capazes de incidir positivamente no clima da escola criando um ambiente que favoreça o interesse pelo estudo, o esforço, a solidariedade, a ajuda mútua entre os alunos, entre professores e entre professores e alunos”.
Ainda analisando estes dois fatores apontados como facilitadores da relação professor aluno (diálogo e bom humor), gostaríamos de colocar que nossa experiência comprova que nos dias atuais o diálogo é de suma importância para a interação entre os sujeitos na educação.
Em artigo publicado na Revista Pátio em 2002, Fernando Hernández afirmava que “o diálogo implica a honestidade de intervir em um clima de confiança”. Assim, não só a relação professor aluno, mas a aprendizagem é favorecida a partir do diálogo.
Sobre o mesmo tema Freire (1996), com a sua Pedagogia da Autonomia já nos apontava o caminho quando dizia que “ensinar exige disponibilidade para o diálogo”. Nos dizia Freire que “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inclusão em permanente movimento na História”.
O Conhecimento como fator facilitador na relação professor aluno
Como foi já mencionado anteriormente, o conhecimento também foi apontado como um fator que facilita a relação professor aluno. Geralmente, quando fala-se em conhecimento caminhamos na direção do domínio do conteúdo, no caso dos professores. É verdade sim, que o professor deve conhecer seu conteúdo. Mas percebemos que o conhecimento aqui tratado é mais amplo.
Nos diversos estudos sobre a relação professor aluno, pesquisas apontam que conhecimento para alunos e pais, não é só o domínio do conteúdo. É o que nos traz Morales (1999). Segundo este autor, “competência do professor para ensinar, controlar a classe, relacionamento com seus alunos, o fato de ser compreensivo, paciente, está disponível para ajudar” são elementos importantes na composição do que seja um bom professor com conhecimento do seu fazer pedagógico.
Freire (1996), ainda contribuí nos dizendo que “o professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe”.
Na verdade, o que percebemos, é que muita vezes a relação professor aluno é prejudicada porque professores não levam a sério seu fazer pedagógico. Daí, os conflitos provocados por aulas que não são preparadas.
É claro que isso não significa que o professor que estude e domine seu conteúdo seja capaz de evitar conflitos somente por sua competência científica. “Há professores e professoras cientificamente preparados mas autoritários a toda prova” Freire (1996).
Gostaríamos de concluir esta parte do nosso artigo com uma citação de Freire: “o bom professor é o que consegue enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um “desafio e não uma cantiga de ninar”. Seus alunos cansam não dormem, cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”.
Considerações Finais
O estudo da relação Professor Aluno oportuniza reflexões múltiplas sobre diversos temas. A partir da análise dos dados coletados juntos aos alunos, pais e colegas educadores, percebemos que os fatores que muitas vezes dificultam o relacionamento entre professores e alunos são nossos velhos conhecidos.
Ou seja, autoritarismo, falta de respeito mútuo, falta de estima e motivação ainda produzem conflitos em nossas escolas.
Ao mesmo tempo, deve ser motivo de reflexão o fato de alunos, pais e educadores, apontarem o Bom Humor e o Diálogo como fatores principais que facilitam a relação professor aluno. Se analisarmos com calma, bom humor e diálogo não são montanhas intransponíveis.
Precisamos pois, caminhar na direção de uma educação cada vez mais humanizadora e significativa. Tarefa árdua, acreditamos que sim. Contudo, a relação professor aluno precisa ter mais afetividade.
Esperamos que os dados aqui socializados contribuam não só com colegas educadores, mas também com pais e alunos.
Encerramos com o pensamento de Gadotti:
“Nós, seres humanos, não só somos seres inacabados e incompletos como temos consciência disso. Por isso, precisamos aprender “com”. Aprendemos “com” porque precisamos do outro, fazemos-nos na relação com o outro, mediados pelo mundo, pela realidade em que vivemos”.
Bibliografia
FLEURI, R. M. Educar para que? Contra o autoritarismo da relação pedagógica na Escola. São Paulo: Cortez, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um Sonho – Ensinar e Aprender com Sentido. Novo Hamburgo: Centro Universitário Feevale, 2003.
HENÁNDEZ, Fernando. O diálogo como mediador da aprendizagem e da construção do sujeito na sala de aula. Revista Pátio, Ano VI, Nº 22 Jul/Ago, 2002.
HENGEMÜHLE, Adelar. Da Função de Ensinar ao resgate da Educação. A Formação de Professores. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2007.
MORALES, Pedro. A Relação Professor Aluno – O que é e como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
TAPIA, Jesús Alonso e FITA, Enrique Caturla. A Motivação em Sala de Aula – O que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
No início de 2007, durante a Jornada Pedagógica do Instituto de Educação Cenecista Marquês de Herval, foi lançado o Projeto Grupo de Estudos com Professores em Serviço, que objetiva a qualificação continuada dos educadores. Os professores da Instituição foram convidados a formarem grupos por área de interesse e se comprometeram a realizarem encontros com regularidade mensal para estudo do tema escolhido, sendo que a proposta culminaria com a redação de um artigo-síntese sobre o tema que integrará os anais do projeto. Neste sentido, após os primeiros encontros, o grupo definiu que o o objeto de estudo seria a relação Professor Aluno.
Assim, este artigo apresenta os resultados obtidos através de uma pesquisa realizada no ano de 2007 sobre fatores que facilitam e dificultam a relação professor-aluno. A pesquisa foi desenvolvida em quatro escolas do município de Osório/RS, sendo o público-alvo constituído de alunos (nível fundamental e médio), professores e pais.
O objetivo deste trabalho foi verificar a percepção do corpo docente, discente e familiar sobre fatores que interferem no relacionamento professor aluno. A metodologia utilizada foi quantitativa e as respostas evidenciaram que professores pais e alunos possuem opiniões similares sobre fatores que dificultam ou facilitam a relação professor aluno.
Introdução
Nos últimos anos, têm-se percebido cada vez mais, um considerável número de professores angustiados com as relações existentes principalmente dentro das salas de aula. Desinteresse, falta de motivação, apatia e muitas vezes agressividade são queixas constantes de colegas educadores. Ao mesmo tempo, alunos queixam-se de seus professores pelo autoritarismo, desinteresse e também pela falta de motivação.
Entre estes dois grupos, a família quando cobrada, muitas vezes deposita na escola a responsabilidade por possíveis desvios de conduta de seus filhos e raramente apóia a escola.
Quais seriam os motivos pelos quais a relação professor aluno apresenta-se nos últimos anos tão fragilizada? Buscando encontrar algumas respostas para esta questão, nos dispomos a realizar um levantamento de dados em quatro escolas do Município de Osório, questionando professores, alunos e familiares sobre o que facilita e o que dificulta a relação professor x aluno.
Os Dados da Pesquisa
Entre tantas situações que predispõem a qualidade da relação professor x aluno no que diz respeito as dificuldades impostas no dia-a-dia da sala de aula, oito itens foram apresentados aos entrevistados: autoritarismo; falta de respeito mútuo, falta de estima, relação familiar, falta de motivação, instabilidade emocional, recursos físicos escolares inadequados e visão fragmentada do ser humano.
Estes aspectos foram escolhidos a partir das colocações dos membros do grupo de estudo que através de suas experiências do fazer pedagógico, optaram por estes elementos que julgam relevantes. Da mesma forma, oito itens que facilitariam a relação professor aluno também foram apresentados aos entrevistados: diálogo, parceria, bom humor, entusiasmo, afetividade, conhecimento, flexibilidade e motivação.
Tabulação dos Dados
A tabulação dos dados da pesquisa realizada com os alunos do Ensino Médio apontou os seguintes resultados no que diz respeito aos fatores que dificultam a relação professor aluno: 45% apontaram o autoritarismo, 41% a falta de respeito mútuo e 8% a falta de estima. Já com relação aos fatores que facilitam a relação professor aluno os mesmos educandos apontaram os seguintes resultados: 46% escolheram o bom humor, 30% o diálogo e 15% a parceria.
A mesma pesquisa foi realizada com alunos do Curso Fundamental e os resultados apontados foram os seguintes no que diz respeito aos fatores que dificultam a relação professor aluno: 33% a falta de respeito, 26% autoritarismo e 19% falta de estima. Para estes alunos o que facilita a relação professor aluno com 55% está o diálogo, 22% o bom humor e 19% a parceria.
A pesquisa também foi realizada com professores do Ensino Médio e Ensino Fundamental de quatro escolas diferentes e os resultados apontados foram os seguintes: como facilitadores da relação professor aluno estão o bom humor com 30%, o diálogo com 27% e o conhecimento com 17%. Já em relação aos fatores que dificultam essa relação está a falta de respeito mútuo com 45%, o autoritarismo com 31% e falta de motivação com 14% dos votos.
A mesma pesquisa realizada com pais das quatro escolas pesquisadas em relação aos fatores que facilitam a relação professor aluno apontou diálogo com 64%, conhecimento com 14% e motivação e bom humor com 8% dos votos. Já os fatores que dificultam a relação professor aluno para os pais são a falta de respeito mútuo 61%, autoritarismo 22% e falta de motivação 8% dos votos.
Análise dos Dados
Percebe-se que dos oito itens apresentados para serem enumerados conforme grau de importância, com relação aos fatores que dificultam o relacionamento professor aluno, educandos do fundamental, professores e familiares apontaram em primeiro lugar a falta de respeito mútuo seguido do autoritarismo em segundo lugar. Vimos também, que na opinião dos alunos do Ensino Médio a ordem foi inversa. Ou seja, em primeiro lugar, aqueles alunos apontaram o autoritarismo e logo após a falta de respeito mútuo. Na terceira colocação os alunos elegeram a falta de estima, enquanto familiares e professores optaram pela falta de motivação.
Para familiares e alunos do fundamental, a relação professor aluno pode ser facilitada em primeiro lugar pelo diálogo, enquanto que professores e alunos do Ensino Médio apontaram o bom humor em primeiro lugar. Na segunda posição concordaram professores e alunos do Ensino Médio que é o diálogo um elemento facilitador. Já para alunos do Fundamental foi o bom humor e para seus familiares, o conhecimento do professor. Este aspecto também foi colocado em terceiro lugar na opinião dos professores pesquisados. Ao mesmo tempo, a relação professor aluno ainda pode, em terceiro lugar, para os familiares ocorrer através da motivação, que na opinião dos alunos, na mesma posição indicaram a parceria do professor.
A Falta de Respeito e o Autoritarismo
Com relação aos fatores que dificultam a relação professor aluno, ficou evidenciado algo que o grupo já conhecia. Como sabemos a falta de respeito mútuo e o autoritarismo tem sim, dificultado muito a relação professor aluno em nossas escolas. Pais, professores e alunos sabem e revelaram isso no levantamento realizado.
O velho modelo, “professor ensina, aluno aprende”, ainda existe. E isto ficou evidenciado com os dados levantados junto aos pais, alunos e colegas educadores. Nesse modelo, é quase impossível ocorrer trocas, enfim, uma relação harmoniosa. Temos o autoritarismo.
Freire (1996), já nos dizia que “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. Por isso, o estudo aponta um fator importante que tem prejudicado bastante a relação professor aluno.
O professor autoritário não contribui para uma educação mais humanizadora. Na verdade, entendemos que conforme Fleuri (1997), a prática pedagógica autoritária acaba gerando situações de conflitos. Assim, sem um bom relacionamento entre alunos e professores, a própria prática pedagógica e o processo ensino-aprendizagem ficam prejudicados.
Com relação á falta de respeito mútuo, outro fator destacado no levantamento, fica claro que este também é um elemento que tem prejudicado a relação professor aluno. É cada vez mais constante nas salas dos professores e também nas salas do SOE, queixas de alunos e professores que no dia-a-dia de nossas escolas enfrentam situações onde a falta de respeito impera.
Nos últimos anos a relação professor aluno tem sido muito estudada. Grande parte dos estudos sobre tema apontam a falta de respeito mútuo como um fator que realmente contribui para uma relação conflituosa em nossas escolas.
Como sabemos, no ambiente escolar é fundamental o respeito entre professores e alunos. De acordo com o dicionário Aurélio, respeitar é "a lei de agir de modo que não fira, não ofenda e não prejudique".
Porém, o que temos hoje em nossas escolas é o desrespeito mútuo que vai da violência verbal, psicológica, e muitas vezes, à violência física como muito tem-se noticiado. Resultando na falta de diálogo que vamos analisar mais tarde, entre alunos e professores o que prejudica o aprendizado dos educandos. Por outro lado, pela falta de respeito dos alunos, o professor não se sente motivado a explicar o conteúdo, o que prejudica ambos.
A Falta de Estima e Motivação
Sem sombra de dúvidas ser professor hoje em nosso país não é algo fácil. Ainda que sejamos reconhecidos como profissionais necessários para a transformação da sociedade, ainda que sejamos aplaudidos em algumas ocasiões durante o ano, cada vez mais ser professor torna-se tarefa árdua.
E no momento em que analisamos a relação professor aluno, a nossa motivação e nossa estima também devem ser analisadas. Basta ver os dados apontados na pesquisa, onde alunos e pais, além de nós mesmos, apontam a falta de estima e também a falta de motivação como fatores que também prejudicariam a relação professor aluno.
É verdade, que ambos elementos valem tanto para os educadores, como para os educandos. Professor não motivado, com sua estima baixa, acaba por influenciar seus alunos. Conforme Morales (1998) “não basta o que professor faz; é necessário que o aluno perceba o interesse do professor”.
O mesmo autor ainda nos diz que “as condutas do professor influem sobre a percepção que os alunos têm de sua própria relação com os professores. Continuando sua análise sobre esta relação, Morales aponta que “ a conduta do professor influi sobre a motivação e a dedicação do aluno ao aprendizado”.
Por isso, entendemos que o papel do professor é fundamental nesta relação. A construção de uma relação menos conflituosa passa pelo entendimento do professor como agente de transformação das relações com seus alunos.
Como dissemos anteriormente, ser professor não é tarefa fácil. Na verdade, segundo Hengemühle (2007), “a pós modernidade certamente trouxe aos professores desafios nunca vistos e enfrentados nos momentos históricos anteriores”.
Assim, sabemos que muito do que acontece na escola é fruto do trabalho e da ação dos professores. Por isso a relação professor aluno, necessita de motivação e estima de todos os sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Concluímos essa análise dos elementos que dificultam a relação professor aluno dizendo que os educadores são sim, responsáveis pela transformação das pessoas, que por sua vez transformam a sociedade. Segundo Gadotti (2003), “ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade ser educadores”.
O Bom-Humor e o Diálogo
Geralmente quando somos cobrados a indicarmos elementos que podem contribuir com uma relação mais harmoniosa entre alunos e professores, muitas coisas são colocadas. Entre os itens que foram colocados a disposição dos entrevistados: Bom Humor e Diálogo foram os mais evidenciados.
O resultado é, interessante, porque fatores como conhecimento e motivação não mereceram tanto destaque. Ou seja, tanto para alunos, quanto para pais e professores, diálogo e bom humor são elementos que facilitam a relação professor aluno.
Isso nos fez pensar sobre o que seja um bom professor ou o que seja um bom aluno. Quem não presenciou a cena onde um aluno ou uma turma inteira declara “amor eterno” ao professor tal, por ele ser parceiro, legal, bem humorado, brincalhão. Todos o adoram.
Geralmente com o aluno é diferente. Aluno legal, parceiro seria aquele que coopera, faz os trabalhos, tira boa nota, etc. No entanto, verificar que o bom humor e o diálogo são fatores que facilitam a relação professor aluno é muito bom. Na verdade, se tivermos um olhar mais sensível em relação aos nossos alunos, vamos perceber que eles, e nós mesmos, adoramos uma aula alegre, divertida.
Mas também é verdade que a interação aluno professor não é só de alegria e diversão. No dia-a-dia da escola nem sempre é fácil equilibrar as relações com motivação. Nesse sentido Tapia e Fita (1999), nos dizem que “a motivação dos alunos se vê notavelmente influenciada pelo clima que se vive e pelo ambiente que se respira na escola, pelas normas de funcionamento, pelos valores que se depreendem da atuação dos professores individualmente e em equipe”.
Percebe-se que um clima favorável ao diálogo e ao bom humor não obra de um único sujeito. Os mesmo autores ainda afirmam que “é importante, muito importante que as equipes de professores sejam capazes de incidir positivamente no clima da escola criando um ambiente que favoreça o interesse pelo estudo, o esforço, a solidariedade, a ajuda mútua entre os alunos, entre professores e entre professores e alunos”.
Ainda analisando estes dois fatores apontados como facilitadores da relação professor aluno (diálogo e bom humor), gostaríamos de colocar que nossa experiência comprova que nos dias atuais o diálogo é de suma importância para a interação entre os sujeitos na educação.
Em artigo publicado na Revista Pátio em 2002, Fernando Hernández afirmava que “o diálogo implica a honestidade de intervir em um clima de confiança”. Assim, não só a relação professor aluno, mas a aprendizagem é favorecida a partir do diálogo.
Sobre o mesmo tema Freire (1996), com a sua Pedagogia da Autonomia já nos apontava o caminho quando dizia que “ensinar exige disponibilidade para o diálogo”. Nos dizia Freire que “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inclusão em permanente movimento na História”.
O Conhecimento como fator facilitador na relação professor aluno
Como foi já mencionado anteriormente, o conhecimento também foi apontado como um fator que facilita a relação professor aluno. Geralmente, quando fala-se em conhecimento caminhamos na direção do domínio do conteúdo, no caso dos professores. É verdade sim, que o professor deve conhecer seu conteúdo. Mas percebemos que o conhecimento aqui tratado é mais amplo.
Nos diversos estudos sobre a relação professor aluno, pesquisas apontam que conhecimento para alunos e pais, não é só o domínio do conteúdo. É o que nos traz Morales (1999). Segundo este autor, “competência do professor para ensinar, controlar a classe, relacionamento com seus alunos, o fato de ser compreensivo, paciente, está disponível para ajudar” são elementos importantes na composição do que seja um bom professor com conhecimento do seu fazer pedagógico.
Freire (1996), ainda contribuí nos dizendo que “o professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe”.
Na verdade, o que percebemos, é que muita vezes a relação professor aluno é prejudicada porque professores não levam a sério seu fazer pedagógico. Daí, os conflitos provocados por aulas que não são preparadas.
É claro que isso não significa que o professor que estude e domine seu conteúdo seja capaz de evitar conflitos somente por sua competência científica. “Há professores e professoras cientificamente preparados mas autoritários a toda prova” Freire (1996).
Gostaríamos de concluir esta parte do nosso artigo com uma citação de Freire: “o bom professor é o que consegue enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um “desafio e não uma cantiga de ninar”. Seus alunos cansam não dormem, cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”.
Considerações Finais
O estudo da relação Professor Aluno oportuniza reflexões múltiplas sobre diversos temas. A partir da análise dos dados coletados juntos aos alunos, pais e colegas educadores, percebemos que os fatores que muitas vezes dificultam o relacionamento entre professores e alunos são nossos velhos conhecidos.
Ou seja, autoritarismo, falta de respeito mútuo, falta de estima e motivação ainda produzem conflitos em nossas escolas.
Ao mesmo tempo, deve ser motivo de reflexão o fato de alunos, pais e educadores, apontarem o Bom Humor e o Diálogo como fatores principais que facilitam a relação professor aluno. Se analisarmos com calma, bom humor e diálogo não são montanhas intransponíveis.
Precisamos pois, caminhar na direção de uma educação cada vez mais humanizadora e significativa. Tarefa árdua, acreditamos que sim. Contudo, a relação professor aluno precisa ter mais afetividade.
Esperamos que os dados aqui socializados contribuam não só com colegas educadores, mas também com pais e alunos.
Encerramos com o pensamento de Gadotti:
“Nós, seres humanos, não só somos seres inacabados e incompletos como temos consciência disso. Por isso, precisamos aprender “com”. Aprendemos “com” porque precisamos do outro, fazemos-nos na relação com o outro, mediados pelo mundo, pela realidade em que vivemos”.
Bibliografia
FLEURI, R. M. Educar para que? Contra o autoritarismo da relação pedagógica na Escola. São Paulo: Cortez, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um Sonho – Ensinar e Aprender com Sentido. Novo Hamburgo: Centro Universitário Feevale, 2003.
HENÁNDEZ, Fernando. O diálogo como mediador da aprendizagem e da construção do sujeito na sala de aula. Revista Pátio, Ano VI, Nº 22 Jul/Ago, 2002.
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